Ensaio sobre vida, morte e esperança


Um dos maiores dilemas enfrentados pela humanidade é a falta de sentido. O sentimento de culpa, em momentos de solidão, a nostalgia que renasce após alguns minutos de chuva, quando o vapor que sobe da terra esfria os nossos ossos, baixando a temperatura e nos tornando vulneráveis às lembranças.

O problema é que algumas das lembranças estão cobertas pelo sofrimento, isso acontece porque o que lembra é sempre passado, e o que é passado já não é, morreu. Para que entendamos isso, imagine que quando você chegou a essa palavra, morreu. A pulsão que envolve o homem para o passado pode ser chamada de regresso continuo, e alcança níveis austeros, principalmente quando o ambiente não o impele para o futuro
.
Os homens encaram a pior realidade da vida todas as vezes que ele esquece o que não tem que chamamos de futuro, ele se encontra com a realidade que não tem mais, que chamamos de passado. Seria possível superar a falta de sentido sabendo que somos miseráveis seres que não possuem nada ontologicamente falando? Sim, pela superação do sofrimento, ou melhor, com a vivencia com o sofrimento.

Uma pergunta do campo de concentração que me chama atenção na obra de Viktor Emil Frankl, é sobre a possibilidade dos prisioneiros do nazismo avançarem para a cerca elétrica e simplesmente acabarem com o seu sofrimento. Frankl, nos lembra que eles não ia porque esperavam rever seus familiares, sua igreja  ou seu trabalho. Na vida é assim o que nos leva a enfrentar as dificuldades não é o passado, mas a esperança. Quem tem um 'porquê' enfrenta qualquer 'como', dizia Nietzsche.

Só não nos aventuramos o suicido pela esperança que temos de encontramos depois da chuva o sol, depois do frio, o calor, depois da tempestade a bonança.

            Quem dotou o homem de esperança sabia muito bem o precioso bem que lhe entregava, e quando a esperança falta e o frio dói, esperar ainda é a melhor opção, o passado nos ensina a ir para frente porque ele não teve a mesma sorte. E quando o nosso próprio sentido nos trair, olhemos para aquele que nos transcende, aprendamos com Davi quando diz:

Esperei com paciência no SENHOR, e ele se inclinou para mim, e ouviu o meu clamor. 


O autor

Oi, meu nome é Rafael Sá. Sou téologo, filósofo e escritor. Neste ambiente a fé se converge com existência, produzindo espiritualidade. Estamos aqui até que chegue a paz do Cristo!

Algumas palavras sobre corrupção


Existe um fenômeno cultural que encerra a questão do aprisionamento da alma. Corrupção. A palavra latina curruptus que quer dizer “quebrado em pedaços”, determina à primeira vista que algo se tornou o que não era, tal como um vaso que tinha forma perfeita, e que ao ser martelado se fez em ruínas.

Um dos assuntos mais comentados no Brasil é a criminosa corrupção politica, filosófica, educativa, entres outros. Ao analisar o problema, em um primeiro momento verificamos que a corrupção é sempre compartilhada, não existe corrupto sem corrompido e não existe corrompido sem um corrupto. Sempre há um sujeito corruptor e um objeto corrompido, uma estrada de mão dupla.

Precisamos parar pra pensar no tal “martelo” que quebrou o vaso, se somos uma sociedade constituída por princípios universalmente éticos que impelem o homem para o que é bom, porque ainda somos tentando à corrupção? O “martelo” poderia ser chamado de vícios e o vaso de mente. Ao atirarmos contra a dimensão mental com práticas não convencionais relacionadas a desvios éticos quebramos a dimensão em pedaços.

Acontece com os políticos que se convenceram que podem simplesmente ludibriar seus eleitores, acontece com a pessoa que adultera a gasolina, acontece com quem fura a fila. Modelos de corrupção aperfeiçoados pela invalidade dos valores e o cultivo dos vícios.

            Um componente vital pra a corrupção mental é o midiatismo moderno, centrado no contrato do vicio, ou seja, daquilo que depois de ingerido produz aprisionamento, seria até possível falar em dependentes de meios comunicativos, ao cultivar péssimos hábitos temos ai uma substituição do que é bom para aquilo que completamente mal.

            A melhor medida pra vencermos a corrupção é pelo convencimento racional de que à medida que me afasto daquilo que é mal e me aproximo do que é virtuoso, assumo um caráter genuinamente humano, Paulo de Tarso nos ensinando a pensar, diz o seguinte:

“Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai.”  

O autor

Oi, meu nome é Rafael Sá. Sou téologo, filósofo e escritor. Neste ambiente a fé se converge com existência, produzindo espiritualidade. Estamos aqui até que chegue a paz do Cristo!

Identidade



                            Torna-te o que és. O principio de identidade da lógica diz que todo objeto é igual a si mesmo, isso quer dizer que A nunca pode ser igual B, e nem o contrário. Saindo do conceito para a prática humana isso quer dizer que você nunca conseguira ser outro ser que não seja você.
                            Parece simples o argumento, mas me espanto realmente com a quantidade de pessoas que querem ser outra pessoa. Aprendi nos bancos da faculdade que a pessoa humana aprende por algo muito simples chamada de imagem, e é está que condiciona todos os conceitos que os homens têm.
                            Quando alguém se colocar a querer ser uma nova pessoa, frase que já virou clichê, muito motivada pelos livros de auto ajuda, ela na verdade está ignorando o papel que tem, assumindo assim uma nova identidade, a partir da qual se identificará com o mundo.
                            As pessoas se alienam muito fácil, de seriados como Harry Potter, a times de futebol, passando pelas igrejas e chegando a bandas de Rock, assumem uma identidade diferente da projetada para ela, na verdade sua vontade é ser o melhor para ser aceita. É verdade que quando nos identificamos com outros e percebemos suas melhores potencialidades, reassumimos o compromisso de ajudar o outro a ser melhor. Embora, ser o que realmente somos mostra a capacidade que aqueles que nos criou nos deu de nos tornamos o melhor todos os dias.

                            Criação não é evolução, pois não é um processo de alienação para ser outro. Criação é viver o melhor que posso ser e esse ser não pode ser diferente de mim mesmo.

O autor

Oi, meu nome é Rafael Sá. Sou téologo, filósofo e escritor. Neste ambiente a fé se converge com existência, produzindo espiritualidade. Estamos aqui até que chegue a paz do Cristo!

Pelo primeiro passo


O mundo é peregrinação. Dificilmente alguém não religioso se identificaria com essa metáfora, não é atrativo pra ninguém se desvencilhar da vontade de poder, e decidir caminhar em direção a uma jornada verdadeira pela vida.

Ao se pensar em representação pela peregrinação, deveríamos adentrar primeiro no processo de ser no mundo. Algo como está aqui para algum propósito. Dar um passo em direção a algum lugar é mais importante que  escolher permanecer em uma ideologia particular, subjetiva, que aflora simplesmente a consciência do grande niilismo que nos acomete, que é exatamente a falta de sentido.

O mundo seria bem melhor representado por uma metáfora que fosse dinâmica, permanecer apático em relação as questões primordiais da vida, como a fé, a esperança e o amor é pura histeria coletiva daqueles que preferem viver na angustia de seu próprio sofrimento.

Peregrinação é a dinâmica que a própria vida requer de nós, “ir em direção a”, é o que identifica os passos de uma criança ao se impor no mundo. Há exemplo da causa infantil, o homem como todo não pode alcançar entendimento algum de nenhum fato relacionado à vida a não ser que se proponha a dar um primeiro, um segundo e indefinidos passos em direção ao seu próprio sentido.

Não posso deixar de citar que esse texto é uma compreensão de um sonho vivido por um pobre homem condenado pela sua fé chamado de John Bunyan autor de “O peregrino”. Se identificar com a jornada de sua vida seria o primeiro passo para o homem conhecido como pós-moderno avançar como homem que é no mundo. A relatividade das ações que o nosso cotidiano impôs é daninha para o processo de dar dignidade à pessoa humana

Vivemos sem sentido porque a vida não nos faz sentido. Qual o sentido de um jogador de futebol que perde suas pernas? O primeiro olhar para essa situação diria, nenhum. E isso só acontece porque o tal jogador não é mais que um produto midiático, ou de um processo de coisificação, que ele só tem sentido enquanto um objeto.

            Assumir uma postura em relação à vida e entender que o sentido da vida só pode está além da própria vida é um teste de coragem. Se a vida é um fim em si mesmo, logo somos os seres mais miseráveis do mundo.


Agora, preciso assumir uma postura radical, minha própria postura, tenho que dizer que minha vida não faria sentido sem o ser que designamos a milênios de Deus. Por mais que a sugestão imponha uma religiosidade ou um fanatismo, esclareço que à medida que me liberto do processo de alienação só posso ver sentido para além dessa vida na transcendência do meu próprio ser, orientado ou para outra pessoa ou para o meu Deus que a ambos  amo e sirvo.
Pense! Repense! Dê o primeiro passo!

O autor

Oi, meu nome é Rafael Sá. Sou téologo, filósofo e escritor. Neste ambiente a fé se converge com existência, produzindo espiritualidade. Estamos aqui até que chegue a paz do Cristo!

Reflexo


Quem nunca se aventurou a devanear-se pelos seus próprios extintos, ignorando as categorias a priori, ou fundamentais, da existência humana, como tempo e espaço, e passear pelas virtudes do seu eu enquanto pessoa, bem como seus vícios. O exercício reflexivo conduz o homem a predicação de conceitos, aqueles mais próximos da objetivação.

No ato reflexivo o homem se torna senhor da história usual, declaradamente anterior a sua subjetividade. Quando se olha no espelho, a imagem projetada é uma imagem inversamente acomodada, ilusória, passageira. A contemplação percebe o homem no seu sentido máximo como homem-além-homem, um sentido novo aflora que não se baseia nos sensoriais convencionais, como audição visão. Não poderia ser uma intuição, pois não é uma profetismos futurista que o define.

Ao observa outro homem, o homem a priori é forçado a uma hermenêutica do ser que é transitoriamente orientada para a sua própria cosmovisão.

Se a visão do outro é minha própria visão qual seria a visão de mim mesmo? A visão de si mesmo é a visão interpretativa de outro-eu que atua como cosmo visionário do ser como pessoa. Isso quer dizer que ao ser me acomodo a visão particular de outro. A grande suposição nova é que quando olhamos para o outro o vemos como a nós mesmos, em contrapartida ao olharmos para nós mesmos somos sujeito do outro em nós.

Nessas categorias o homem nunca se enxergou e nunca enxergou outro homem, é sempre uma interpretação co-relacional.

Como o homem pode encontra-se em si mesmo se sempre é sujeito outro? A busca de um si mesmo acontece à medida que percebo o outro como ser não outro, mas como ser em mim.


Esse texto continuará em ocasiões posteriores... Sinto me incapaz de continuar agora com esse novo tipo de conhecimento. Aguarde!
Pense! Repense! 

O autor

Oi, meu nome é Rafael Sá. Sou téologo, filósofo e escritor. Neste ambiente a fé se converge com existência, produzindo espiritualidade. Estamos aqui até que chegue a paz do Cristo!

Olhando para os Pássaros


Aprender a vê a beleza naquilo que é necessário nas coisas é uma lição que o homem poderia apreender á medida que se aproxima delas. Focaremos o olhar naquele que é o mais sublime de todos os homens, e o melhor e mais humilde entre os “deuses”.

Nenhum “deus” criado em qualquer movimento mitológico comprometeu-se a conhecer e vivenciar a existência humana. É fato que os homens nunca reconheceriam como “deus” aquele que se humilha a tal posição, a menos que ele se torne um tirano.

João um dos apóstolos, conceituou o principio de todas as coisas a partir de uma palavra, o "logos".O logos joanino aponta para Deus encarnado na forma de homem. homem de dores, sofrimentos, angústias. É esse homem que ao olhar para nós pobres e infelizes existentes, observa uma das nossas necessidades de forma singular, em um episódio que marcou a vida de um discípulo, Levi, chamado no meio grego de Mateus, ele registrou o seguinte:

Olhai para as aves do céu, que nem semeiam, nem segam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. Não tendes vós muito mais valor do que elas? E qual de vós poderá, com todos os seus cuidados, acrescentar um côvado à sua estatura? E, quanto ao vestuário, por que andais solícitos? Olhai para os lírios do campo, como eles crescem; não trabalham nem fiam; E eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles. Pois, se Deus assim veste a erva do campo, que hoje existe, e amanhã é lançada no forno, não vos vestirá muito mais a vós, homens de pouca fé?

Ao existir no tempo, Cristo ensina muito sobre a necessidade de humanização do homem. E ao olhar para as coisas simples e falar da essência natural da criação, ensina o homem a necessidade de observar passivamente sua vida, para daí então passar a atuar no mundo.

Precisamos de mais contemplação para passar a desejada ação. A ação natural do cosmos e sua organização enfatizam a soberania de Deus, do seu mandato que não é arbitrário, mas capaz de observar os aspectos mais bonitos e simples de sua criação, como no episódio acima.

Observemos uma coisa de cada vez, percebamos a essência de cada coisa, nos retiremos da aceleração do pensamento que nos faz abrir várias abas de um navegador de uma vez, relaxemos, quebremos o circulo vicioso da ansiedade que gera medo que por sua vez gera mais ansiedade e assim sucessivamente. Mudar a rotina e observar a ordem das coisas nos fará refletir sobre o sentido da nossa existência, nos tornando parte de um plano maravilhoso de vida plena de sentido.

Como disse Nietzsche:


"Quero cada vez mais aprender a ver como belo aquilo que é necessário nas coisas: - assim me tornarei um daqueles que fazem belas as coisas."

Pense! Repense! Olhe para o que realmente é importante!

O autor

Oi, meu nome é Rafael Sá. Sou téologo, filósofo e escritor. Neste ambiente a fé se converge com existência, produzindo espiritualidade. Estamos aqui até que chegue a paz do Cristo!

Pelo Sentido do Amor


 “O amor é a única maneira de captar o outro ser humano no íntimo de sua personalidade. Ninguém consegue ter consciência plena da essência última de outro ser humano sem amá-la.”

Em um dos maiores best-sellers dos Estados Unidos, encontra-se essa poética afirmação. É possível imaginar muitas pessoas dizendo isso, de produtores de autoajuda a monges budistas, embora, contrariando essas expectativas, essa frase saiu das mãos de um prisioneiro do nazismo, sobrevivente de auschwitz. Viktor Frankl, escritor de “Em busca de sentido”, vivenciou o pior que a raça humana produziu, para depois de uma reflexão profunda encontrar sentido, e uns dos mais sublimes sentidos no amor.

A pessoa que tem a quem amar, necessariamente tem pelo quer viver. É nessa capacidade de se realizar no outro que encontramos refugio para nosso percurso existencial. Um passo de cada vez para entender que a vida só terá sentido quando entendermos o sofrimento da pessoa amada e nos tornarmos seus parceiros na resiliência.

A existência, como sugeriu o mito grego de Dionísio é puro sofrimento, mas a possibilidade de transcender amando o próximo torna-nos vividamente melhores, superando assim a nossa terrível falta de sentido.

Vou concluir esse post com mais uma reflexão de Frankl, para que os leitores entendam a possibilidades que possuem de interagir com a vida, fazendo com que os outros sejam os melhores de si mesmos.

"Por seu amor a pessoa se torna capaz de ver os traços característicos e as feições essenciais do seu amado; mais ainda, ela vê o que está potencialmente contido nele, aquilo que ainda não está, mas deveria ser realizado. Além disso, através do seu amor a pessoa que ama capacita a pessoa amada a realizar essas potencialidades."

Pense! Repense! Ame e deixe ser amado!


O autor

Oi, meu nome é Rafael Sá. Sou téologo, filósofo e escritor. Neste ambiente a fé se converge com existência, produzindo espiritualidade. Estamos aqui até que chegue a paz do Cristo!

Pela Liberdade da mente





Uma clássica frase surge de um dos teólogos mais equilibrados do período estóico e epicurista, Paulo de Tarso, que num momento de inspiração rompeu o horizonte religioso, científico e filosófico dizendo:
"Transformai-vos pela renovação de vossas mentes"

A frase é simples mas não pode ser entendida sem uma observação histórica, e o passeio começa pela ideia de Homero que identifica a "forma" de transformai como aquilo que é aparente, não longe da verdade apoiam-se nesse argumento os estudos de um famoso filósofo conhecido por Aristóteles que distinguia a matéria da forma, onde a forma seria a essência necessária.

Abalizamos a segunda parte da palavra, voltaremos para o prefixo que lhe modifica, o "trans", no grego, a partícula é metha, e seu uso implica numa mudança inconfundível daquilo que lhe sugere, em outras palavras, a sugestão de Paulo é que sejamos modificados naquilo que nos identifica, a "essência".

Como a essência em si não pode ser mudada o que pode acontecer é a semelhança com a natureza, o vir-a-ser o tornar-se. Uma borboleta tornou-se, pois não era, mas tinha potência para ser. Realmente é preciso coragem para ser, torna-se o que é. Essas raizes diferenciaram os indivíduos que permaneceram como potencia dos que  passaram para o ato.

Passaremos a discutir um local onde a transformação deve acontecer, na mente. Essa palavra traz em si a dimensão que evoca a espiritualidade, a dimensão noogênica, onde a maioria das neuroses acontece. É nesse local que o homem precisa ser renovado, reavaliado, refeito, enfim, "transformado".

Fecho a postagem com duas reflexões. A primeira é orientada para o propósito do blog, liberdade da mente. A grande missão é vencer os empecilhos que procrastinam a interação com o nosso eu-religioso. A segunda é a abordagem que Bultmann deu a esse assunto que melhor sintetiza tudo o que queremos viver:

"Trata-se, não de uma nova aprendizagem teorética, mas da renovação da vontade"

Pense!Repense!
 
 

O autor

Oi, meu nome é Rafael Sá. Sou téologo, filósofo e escritor. Neste ambiente a fé se converge com existência, produzindo espiritualidade. Estamos aqui até que chegue a paz do Cristo!